quinta-feira, 15 de março de 2012

A Mensagem - Parte V

  O conto "A mensagem" é baseado no universo criado por Marcelo Cassaro no seu romance Espada da Galáxia. Transformado em cenário de RPG e em histórias em quadrinhos, Espada da Galáxia nos traz a possibilidade de uma guerra entre humanos, metalianos (homens insetos biometálicos) e traktorianos (alienígenas que podem assumir o controle de outros corpos). Este conto se passa depois do evento conhecido como Guerra Traktoriana.
  Anteriormente, em A Mensagem: Dez anos após o fim da Guerra Traktoriana, os metalianos ainda tentam reconstruir o império. O desaparecimento de uma sonda põe em cheque o decreto da Imperatriz, bem como a existência de vida biometálica. Designada para investigar o fato, a Parsec e sua tripulação comandada pelo então almirante Daion Dairax, se vêem numa enrascada quando inexplicavelmente a bionave atravessa um buraco no hiperespaço.


  Diário de bordo do Almirante Daion Dairax, 42º ciclo do ano 4123.
  A doutora Lora está totalmente concentrada na recuperação da bionave Parsec. Mesmo ela afirmando “Sou uma médica, não um mecânico!”, já conseguiu restaurar nossos sensores externos e parte da energia principal. Deste lado do hiperespaço, a radiação talarônica é quase inexistente. Pode-se dizer que o vazamento literalmente foi para o ralo, digo, para o buraco de minhoca. A fonte de radiação são destroços localizados à nossa frente. Parlak conseguiu fazer com que o computador identificasse o que sobrou e pimpa! São restos de uma nave terrestre do tipo destróier da classe Avenger. Pelo estado atual, parece que foi passada no liquidificador e depois jogada no triturador de lixo. Apenas a ponte e parte da engenharia parecem estar inteiras.
  Quando eu me preparava para ordenar a atracação na espaçonave terrestre, dei de encontro com meus subordinados fazendo cara de enterro. Poltrix havia descoberto onde estávamos. Ou melhor, QUANDO estávamos. Ele confirmou as informações com a cartografia estelar da nave, bem como a medição da luminosidade dos corpos celestes e a distância entre eles.
  Ao adentrar no buraco de minhoca, nós voltamos três anos no tempo.
  Poltrix acredita que a radiação talarônica emitida pela nave terrestre afetou consideravelmente a entrada do hiperespaço que, ao invés de fornecer um atalho no espaço, nos forneceu um atalho no tempo. Ele ainda acha que a sonda que nos enviou os dados tenha passado por este mesmo caminho, mas como nossa velocidade era aproximadamente o dobro da velocidade média de uma sonda daquele tipo, “percorremos” o dobro do tempo. Eu ainda acho que todas aquelas contas o tenham deixado pinel.
  Por as más notícias nunca chegam sozinhas.
  Dadas as circunstâncias, eu acreditava que a sonda passaria pelo hiperespaço como nós e nos detectaria, revelando a existência de vida metaliana tão longe. Clássico exemplo de viagem no tempo, onde investigaríamos um evento que nós mesmos causaríamos. Mas Poltrix e Parlak me desenganaram novamente. Eles me mostraram os dados dos sensores, indicando uma forma humanóide seriamente ferida, mas viva dentro do convés da nave à nossa frente. Os dados indicam 70% de chance de ser um metaliano.
  Diante da possibilidade de ser um prisioneiro de guerra que precisa de resgate (ou um metaliano desavisado que enfiou o focinho onde não devia), eu ordenei a tripulação que preparassem o equipamento de abordagem. Apenas alguns microciclos se passaram até que Parlak instalasse o cabo de atracação. Parlak, Poltrix e eu passamos para a outra nave como verdadeiros piratas terrestres. Todos exceto Poltrix que se borra de medo de espaços abertos. Munidos de botas magnéticas e holofotes, fomos guiados pelo tricorder de Poltrix através dos corredores mortos. Não vou perder tempo descrevendo o local ou os terrestres falecidos. Mas foi por causa de um painel de força que descobrimos o nome da nave: U.S.S. Benedict. Sabia que nossa batata ia assar assim que a gente pisasse naqueles destroços.
  Poltrix levou quase um microciclo restaurando o diário do oficial de ciências e do engenheiro-chefe. Soubemos que a Benedict carregava duas bombas T. A detonação da primeira bomba causou uma rachadura no reator que não foi detectada. Quando fizeram um salto no hiperespaço, a merda toda aconteceu. Vazamento de radiação, explosão da segunda bomba... O fato é que os humanos tem a incrível habilidade de estragar tudo e esse evento não foi exceção. Curiosamente, não achamos o diário do capitão. Seria ele tímido? O tricorder nos leva até a ponte de comando, onde acreditamos encontrar o metaliano ferido.
  — É aqui. — disse Poltrix ao ler o tricorder. Apontou — Embaixo daquela pilha de escombros.
  Imediatamente os metalianos começaram a remover os escombros, auxiliados pela ,grande força da raça e pela ausência de gravidade. No entanto, ficaram surpresos com o que encontraram. O ser era definitivamente humanóide. A pele demonstrava ter o brilho da prata, embora houvesse algo parecido com pele humana sobre ela. O ventre parcialmente aberto mostrava músculos de alumínio e ossos de titânio. Era possível ver parte do “estômago” metaliano, uma rosca metálica que gerava antiprótons. O pulsar vermelho no peito seminu indicava que uma pilha atômica, o coração cristalino dos metalianos, ainda estava ativo.
  Mas as semelhanças eram somente internas. Ele não tinha a cabeça em forma de canoa invertida e sua mão era composta de cinco dedos, incluindo um polegar opositor. Haviam mecanismos aparecendo, de cabos a engrenagens. Além de uma máscara que cobria o rosto, o ser utilizava um vestuário militar terrestre completo, incluindo um cinturão extra onde carregava uma submetralhadora e uma bainha para duas espadas, agora vazia. Havia uma pequena caixa com correias presa no pescoço do humanoide, que emitia uma luz fraca de tempos em tempos.
  — Pelas barbas do camarão! — disse Daion. — Eu sei quem ele é. Eu o conheço da história da Terra. É... é... o Capitão Ninja!
  — Quem? — perguntou Poltrix, sem conseguir ligar o nome à pessoa.
Olha o Capitão Ninja!
  — Um militar terrestre, altamente habilidoso e estrategista, que possivelmente comandava esta nave. — explicou Parlak — Ele tinha a... Ei! Aquilo é um indutor anestésico?
  O metaliano indicou uma pequena caixa com correias, presa de modo tosco no pescoço do Capitão Ninja.
  — É sim, ainda está ativo, mas está defeituoso e pode parar a qualquer momento — disse Poltrix, confirmando com o tricorder. — Este tal Capitão Ninja é afetado, pois não é humano. É como um robô, implantado em um corpo metaliano. — esclareceu Poltrix, lendo os dados do tricorder. — partes humanóides cobrindo um cadáver metaliano, que funciona com uma estrutura cibernética. O termo equivalente mais próximo que consigo usar é... andróide.
  — É sabido que o Capitão Ninja preservava seu traseiro utilizando-se de clones, dublês e robôs, mas nunca vi nada tão podre. — comentou Daion.
  — É uma aberração. — disse Parlak. — E deve ser destruída.
  — Sim. — disse o almirante de modo ríspido. — Isso deve violar uma cacetada de artigos do Regulamento, de ética médica à declarações de guerra. Mas devemos lembrar que estamos no meio de um incidente temporal. Sua destruição deve ser feita conforme...
  — Senhor! — gritou Poltrix — O indutor anestésico está falhando!
  De fato, a caixa parou de emitir seu brilho intermitente. Houve movimentos leves dos dedos das mãos e um abrupto convulsionar do pé esquerdo. Mas esses movimentos duraram pouco. A mandíbula do Capitão Ninja movia-se rapidamente, indicando que estava falando, mas nada podia ser ouvido no vácuo do espaço, até que de repente, a criatura passou a transmitir em rádio:
  — Linguagem encontrada: rádio. Diretriz de segurança: ativada. Estive monitorando suas comunicações. Entreguem sua nave e rendam-se como prisioneiros.
  — Diretriz? — indagou Poltrix
  — Sim. Em caso de ameaça de segurança, este protótipo deve destruir testemunhas e tentar voltar à Terra.
  — Protótipo? Você é único? — perguntou Parlak.
  — Sim.
  — Isso facilita um bocado! — gritou Daion. E avançou contra a criatura, acertando-lhe um bom gancho de direita no rosto metálico. O androide se desequilibrou e segurou-se em Daion, rompendo a ligação de suas botas magnéticas com o solo. O impulso carregou ambos pelo ambiente sem gravidade, acertando o chão e o teto várias vezes até serem parados pela porta fechada da ponte de comando. Finalmente as botas de Daion voltaram a ter contato com o metal da nave e ele conseguiu apoio no pé esquerdo. O Capitão Ninja rodopiou sozinho no ar por um segundo, apoiando-se em um painel de comunicação.
  — Boa iniciativa, garoto. Mas muitos tentaram antes de você e não conseguiram. — O Capitão Ninja levou instintivamente a mão para a bainha das espadas, mas sacou a submetralhadora quando percebeu que estava sem elas. — Agora afastem-se!
  — Não se preocupem! — disse Parlak adiantando-se — É uma arma de fogo e não pode disparar no vác...
  Não houve barulho ou faíscas, mas a arma do Capitão Ninja disparou mesmo assim, atingindo a bota magnética esquerda de Parlak. A rajada atravessou o calçado, desligando-a e resvalando na carne metálica. O impacto desequilibrou o metaliano, que desprendeu o outro pé e foi ao chão. A imediata ausência de gravidade fez com que ele deslizasse por dois metros antes de ser parado por um tubo de contenção caído.
  — Disparo por magnetismo. — retrucou o Capitão Ninja. — Parece que pólos iguais podem se repelir em alta velocidade. E aí, quem é o próximo?
  Daion revidou o ataque disparando o laser instalado em seu braço. Os disparos queimavam a carne sintética do androide, mas eram refletidos ao atingirem a pele prateada. Parlak ajustou a sua bota defeituosa enquanto falava as palavras que ativavam sua bainha hiperespacial. Sua coxa esquerda faiscou enquanto sua Espada da Galáxia vinha até sua mão diretamente do hiperespaço. Com um grito de guerra, ele saltou em direção ao adversário para proteger o almirante.
  — Doutora! — chamou Poltrix — Temos um problema aqui!
  — Que tipo de problema? — indagou a médica
  — Do tipo ruim. — Foi a única resposta que conseguiu dar.

... continua!

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