quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Conto: Em terra de cego...

 
Acordou com o calor morno do sol beijando-lhe o rosto. O chão onde dormira continuava gelado, entretanto. Sentou-se devagar, lembrando de se espreguiçar calmamente, como um gato mudando de posição numa almofada. O sons das gaivotas ainda eram baixos, sinal que estavam acomodadas em seus ninhos nos rochedos. Ouvia as ondas quebrando de forma suave no cais, indicando calmaria. O beco onde acordara permanecia em silêncio, mas a casa ao lado começava a despertar, a julgar pelo escarrar do vizinho. Resolveu se levantar antes que lhe jogassem um balde de merda pela cabeça.
  Não possuía nenhum pertence além da roupa do corpo e da bengala tosca de madeira que estava em pé na parede, a dois passos da esteira onde dormira. Esticou o braço com precisão e a agarrou. Em dias ruins, quando sua saúde de morador de rua cobrava seu preço, não teria conseguido pegá-la e possivelmente estaria de gatinhas no chão a procurar pelo espeto caído.