sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Um Otimista Incorrigível


  Não sou fã de livros de auto-ajuda, nem tenho paciência para leitura de biografias. Mas sou fã de Michael J. Fox. Se você não sabe quem ele é, pode descobrir mais clicando aqui. Posso adiantar que Michael J. Fox é o astro principal da trilogia "De Volta para o Futuro" (Back to the Future).

  Neste final de semana eu topei com exemplares do livro Um Otimista Incorrigível, da autoria de MichaelJ. Fox. No livro, Michael conta seus 10 anos com o Mal de Parkinson, doença que o tirou do auge de sua vida artística. Foi por causa dessa doença que o ator criou a Michael J. Fox Foundation, somente para estudos do Parkinson. 


  Pois bem, folheei o dito livro e me interessei.  Não pude comprá-lo, mas adicionei-o a longa e quase interminável lista dos livros que um dia talvez eu compre. 

  Pesquisando sobre o livro, descobri que a introdução do livro pode ser encontrada na internet de modo gratuito. Não precisei pesquisar muito para encontrá-la. Portanto, logo abaixo vocês encontrarão a introdução do livro. Leiam com carinho e se lembrem dela quando tiverem que levantar da cama a contragosto...

 

Um Otimista Incorrigível 

  Nas primeiras páginas de Lucky Man descrevo uma manhã na Flórida, há dezenove anos, quando acordei com uma bela ressaca e meu dedo mindinho tremendo. Nos anos seguintes, minha vida passou por grandes mudanças. Na maioria das manhãs, por exemplo, acordo e meu dedo mindinho está totalmente imóvel; o problema é o restante do meu corpo, que treme de forma incontrolável. Tecnicamente, meu corpo só fica em paz por completo quando minha mente está em repouso total - ou seja, dormindo. Atividade cerebral baixa signifi ca menos neurônios queimando ou, no meu caso, pulando. Quando estou acordando, antes de a minha consciência acordar e saber o que está acontecendo, meu corpo já recebeu insistentes instruções neurais para que se mova, se torça e contorça. E qualquer chance de voltar a dormir já era.

  Nesta manhã, Tracy já se levantou, está preparando o café da manhã e aprontando as crianças para a escola. Tateio o criado-mudo à procura de um frasco de plástico, engulo dois comprimidos e sigo rapidamente para a primeira de uma série de atividades que, mesmo sendo automáticas, demandam grande determinação. Levanto as pernas e as levo até o lado da cama. No instante em que meus pés encostam no chão, os dois começam a lutar. A distonia, uma doença complementar ao Parkinson, faz meus pés doerem e se curvarem para dentro, pressionando meus tornozelos contra o chão e fazendo as solas dos meus pés se encontrarem, como se estivesse juntando as mãos em uma prece. Arrasto meu pé direito até a ponta do tapete e pego com os dedos meu mocassim de couro. Forço o pé para dentro dele e repito o processo com o esquerdo. Então, com cuidado, me levanto. Confortados pela firmeza do couro, meus pés começam a se comportar. Os espasmos pararam, mas as dores ainda vão durar uns vinte minutos.

  Primeira parada: banheiro. Vou poupar você dos detalhes iniciais da minha visita. Digo apenas que, para quem tem Parkinson, é essencial deixar o assento da privada levantado. Pegar a pasta dental não é nada comparado ao esforço feito para coordenar o trabalho das duas mãos, uma segurando a escova e a outra tentando colocar uma linha de pasta nas cerdas.

  Agora, minha mão direita já está levantada e fazendo movimentos circulares com meu punho, perfeito para o que farei em seguida. Minha mão esquerda guia a direita até a boca e, quando a parte de trás da escova toca a gengiva atrás do lábio superior, eu a solto. É como soltar o elástico de um estilingue e, comparando, é tão poderoso quanto a melhor escova elétrica que existe no mercado. Contudo, não há o botão "desligar", então preciso parar meu braço direito com a mão esquerda, forçando-o para baixo até a pia e desarmando-o da escova, como se faz com alguém com uma faca em um filme. Em geral, consigo saber se estou em um bom dia para fazer a barba ou não, e, nesta manhã, como na maioria delas, decido que é cedo demais para arriscar uma carnificina. Resolvo passar apenas o barbeador elétrico rapidinho. E viva Miami Vice!

  Um banco no chuveiro dá uma força aos meus pés, e a água batendo constantemente em minhas costas tem efeito terapêutico, mas, se ficar muito tempo sentado aqui, posso não me levantar mais. Vestir-me já é mais fácil, graças aos comprimidos, que começam a fazer efeito. Evito roupas com muitos botões ou cordões, porém sou viciado em Levi's 501, o que me faz ser uma vítima da moda no estrito senso da palavra. Em vez de me pentear de verdade, ergo os dedos tremulantes até a cabeça, passo a mão no cabelo e torço para ter ficado bom. Viro-me devagar (minhas pernas ainda não ganharam confiança hoje) e sigo em frente para ver minha família.

  Na saída do meu quarto para o corredor, há um grande espelho antigo com moldura de madeira. Não consigo evitar dar uma olhadela em mim mesmo enquanto passo por ele. Virando-me totalmente para o espelho, considero o que estou vendo. Essa versão refletida de mim, molhada, tremendo, enrugada, embaraçada e um pouco curvada seria alarmante, não fosse pela expressão de satisfação estampada em meu rosto. Eu me faria a pergunta óbvia, "do que você está rindo?", mas já sei a resposta: "a partir de agora o dia só melhora".
 


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