segunda-feira, 6 de junho de 2011

Preconceito contra RPGistas - Qual a sua parcela de culpa?

  Venho aqui levantar uma lebre um tanto problemática: o preconceito contra RPGistas. Mas hoje quero falar de outra face do problema: o quanto nós mesmos contribuímos para o aumento deste preconceito? Sim, é isso mesmo: direta ou indiretamente você pode ter uma parcela de culpa do preconceito que existe contra nós, os jogadores.
  A discussão foi motivada por um evento muito ruim que aconteceu comigo neste domingo, dia 5 de junho. O acontecimento em si não é fruto do preconceito, mas ajudou a plantar a semente dele e a denegrir nós jogadores. Mas o pior é que ele foi causado por um jogador de RPG. Vamos a nossa história.

  Quinzenalmente eu e meu grupo nos reunimos no Centro Cultural de São Paulo para jogar RPG. O lugar é de fácil acesso para todos, por ficar perto de pontos de ônibus e metrô. Também é um ponto central de reunião, já que temos integrantes que moram na Zona Norte outros que moram na Zona Sul. Além disso, o lugar já fornece estrutura de mesas e já possui um canto chamado "Espaço do Mestre de Jogos", destinado ao uso para jogos nos finais de semana. O local inclusive é cercado por faixa e tem uma placa dando esta informação (que infelizmente neste dia estava fora do lugar).
Área Interna do Centro Cultural (Biblioteca)
  Quem conhece o local sabe que o espaço reservado é pequeno e não é suficiente para todos os jogadores que as vezes aparecem por lá. Sem dizer que eventualmente um ou mais estudantes acabam se apossando da mesa vazia, e os jogadores que chegam são obrigados a negociarem a saída da pessoa da mesa. Pois foi exatamente isso que aconteceu.
  Eu estava com meu amigo Luis esperando o resto do grupo chegar. Ao nosso lado, um grupo de meninas usava a mesa para estudos, ocupando-a com vários livros e um notebook. Duas meninas foram até a biblioteca enquanto duas ficaram discutindo um texto no notebook quando chegou um jogador até elas. Seguiu-se então o seguinte diálogo:
- Moças, vocês sabem que estas mesas são reservadas para jogos de RPG?
- Não, nós não sabíamos. Tem algum lugar falando?
- Tem uma placa explicando, vocês estão no lugar errado!
- Certo, mas você pretende usar a mesa? A gente não pode continuar por aqui?
- Não, não podem. Vaza! Vaza, entendeu?

  Nessa hora o jogador invadiu o espaço das meninas e começou a desligar deliberadamente o notebook da tomada, bem como empilhar os livros das meninas. Uma delas se levantou e tentou pegar o fio da mão dele, dizendo que ele não tinha permissão para mexer nas coisas delas desse jeito. E sabe o que ele fez?
  Bateu na menina.
  Sim, isso mesmo, ele a agrediu. Numa atitude covarde, o garoto a empurrou e começou a dar socos. Imediatamente, nós e os jogadores de outra mesa nos levantamos e separamos os dois. Alguem foi chamar o segurança. Acalmamos os ânimos do garoto, que saiu imediatamente dali. Então a menina soltou uma frase que ficou martelando na minha cabeça o dia todo:
  - Me falaram mesmo que esses jogadores eram psicopatas, mas eu nunca acreditei até hoje.
  O segurança chegou, e começamosa explicar o ocorrido.Resultado final: as meninas abriram mão de chamar a polícia (o segurança sugeriu um Boletim de Ocorrência por agressão) se o garoto fosse mantido fora da área. O segurança concordou e explicou para as meninas sobre o uso da área reservada. Elas concordaram em sair caso um outro grupo de jogo viesse e solicitasse a saída delas através da figura do segurança. (Nota importante para os frequentadores do local: segundo o próprio segurança, nenhum jogador tem o direito de retirar as pessoas da mesa. Isso deve ser feito pelo próprio segurança, que pode direcionar os estudantes para mesas corretas sem problemas).
   Vamos voltar ao tema do assunto: a frase que a menina falou representa muito bem o que acontece as vezes quando tomamos uma atitude errada ao defender nosso próprio jogo. Talvez a garota nunca tivesse nada contra RPGistas, até agora. O garoto falhou em tomar uma atitude mais amigável para defender um espaço que, por direito, já era seu. Embora tivesse todo direito de requisitar a mesa, fez do modo errado (o pior deles). No entanto a parcela de culpa não foi somente dele.
  Os demais RPGistas no local (eu incluso) não fizeram nada para mudar a imagem dos jogadores perante a menina. Exceto um comentário do Luis que estava comigo ("Moça, não é bem assim. Nós também somos jogadores e nunca agiríamos desta forma"), ninguem explicou mais nada para a moça. Poderia ter rolado uma conversa rápida sobre o modo de agir dos jogadores de RPG, sobre o que é o jogo e por que ele não torna ninguem um psicopata (exceto talvez se você já for um). A moça, que não tinha imagem nenhuma sobre o jogo, saiu de lá com uma imagem bem negativa.
  Isso volta a lebre original: quais atitudes estamos tomando, direta ou indiretamente, que aumentam (ou criam) um aspecto negativo do nosso hobby? Atitudes como sair fantasiado de casa para ir a um evento, conversar sobre "rituais de sacrifício" no ponto de ônibus ou simplesmente esnobar ou diferenciar um "não RPGista" como se nosso jogo fosse um hobby de elite com certeza contribuem para aumentar esse preconceito. Quantas vezes você deu uma mancada dessas e acabou recebendo um olhar de reprovação das pessoas ao redor?
   Fazendo uma comparação, é algo bem parecido com as torcidas organizadas de futebol. Por causa da violência de umas e outras, todas recebem a fama de serem violentas e de estragarem o futebol. Por mais campanhas de paz que se façam, quase sempre a imagem dessas torcidas é arranhada pelos seus proprios integrantes. E olha que o futebol goza de um prestígio muito maior que o RPG (ninguem vai te dar um olhar de reprovação se estiver comentando sobre a tabela do campeonato).
Eu tentei achar uma imagem legal do lugar, mas não consegui...
  Muitas pessoas tentam melhorar a imagem do RPG no país, seja através de publicações sobre o assunto, palestras em escolas ou eventos, etc. Isso é uma atitude louvável. No entanto não podemos esquecer que o trabalho dessas pessoas vai por água abaixo quando mostramos que a mentalidade do jogador de RPG pode ser bem pequena. Lembre-se, você nunca tem uma segunda chance para causar uma boa primeira impressão.
   Acredito que se você não está disposto a explicar sobre o jogo para os outros ao redor, deixe para comentar sobre "rituais de sacrifício" somente na sua mesa de jogo. Se não quer (ou não se julga capaz de) dar explicações para os seguranças do shopping ou do metrô sobre seu comportamente estranho, não saia de casa fantasiado de nosferatu. Muito se faz quando esclarecemos as coisas e explicamos as pessoas sobre o nosso jogo, mas também colaboramos bastante quando NÃO tomamos atitudes negativas para estragar o hobby. Afinal, muito faz quem não atrapalha.

7 comentários:

  1. putz. que mesca esse cara fez... depois dessa eu não deixava o sujeito entrar mais nessa area em hipotese alguma (banimento mesmo do lugar)...

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  2. Vinícius,O Bárbaro (q não se sente assim tão bárbaro quando ouve histórias como essa)6 de junho de 2011 às 11:26

    Cara... O tema é relevante, mas no fim, creio que estamos discutindo um problema da sociedade. Há, entre os rpgistas, um pouco de tudo o que há em qualquer meio. É óbvio que o rapaz em questão é um desequilibrado sem condição alguma de viver em sociedade. Um covarde e um troglodita, sem dúvida. Mas acho que tb houve ignorância no comentário da garota. Generalizar simplesmente não é o caminho. É como vc disse no seu exemplo (e eu vou além até): quer dizer que, pq existem as organizadas e pq existem bandidos entre os organizados, todo fã de futebol é criminoso? É óbvio que não. Tudo isso tb evidencia o despreparo. Parece-me claro que o infeliz não teria coragem de fazer o que fez se a segurança do local fosse adequada.

    Até concordo contigo quando diz que alguém poderia ter explicado melhor à moça o que significa ser rpgista, curtir rpg... Mas acho que em menor grau ela mostra a mesma ignorância chamando-nos indistintamente de psicopatas. De repente era o sangue quente por ter sofrido uma agressão (quem de nós nunca disse algo de que pudesse ser arrepender num momento como esse?), mas no fim, fico com essa sensação: presenciamos um episódio duplo de ignorância e intolerância. Perdemos nós, paulistanos, perde o centro cultural, perde o RPG.

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  3. Concordo que a menina também generalizou a "categoria" em seu comentário e também acho que foi a culpa do sangue quente. Ela me pareceu sensata o suficiente para ponderar sobre o assunto, se alguem tivesse ido até lá falar com ela, o que infelizmente, não aconteceu.

    E Vinícius (seu bárbaro não parece tão mau agora?), essa generalização que você fez das torcidas de futebol existe (infelizmente também). Conheço pessoas que atribuem a violência dos estádios unica e exclusivamente a torcidas organizadas.

    Mas também, para nossa sorte, boa parte desas pessoas está disposta a mudar de opinião se for informada corretamente sobre o fato (seja ele sobre RPG ou futebol).

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  4. Vinícius, O Bárbaro6 de junho de 2011 às 14:25

    Sem dúvida. E é óbvio que nos jogadores (os sensatos, pois como disse anteriormente, há de tudo no meio do rpg, como em qualquer outro meio) temos nossa lição de casa.

    Já ficaria muito feliz caso o pessoal conservasse as mesas limpas, por exemplo. Sempre vejo o Luís recolher algum papel, alguma coisa que algum grupo distraído deixou para trás. Um bom exemplo de cidadania num gesto simples. Há muito o que fazer, mas sempre haverá alguém (uma minoria esmagada) que terá atitudes que não condizem, infelizmente.

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  5. Achei super interessante sua abordagem, afinal sou casada com um RPGista e nunca tive problemas, acho importante você ter citado a frase da garota, que por sinal pode ser que demore um pouco pra voltar ao espaço ou até mesmo vá com medo e claro que isso não é legal, pois todos tem o direito de ir e vir de qualquer lugar publico, esse rapaz como você mesmo disse já estava no direito, mas perdeu da pior maneira ao agradi-la, você citou o futebol, mas temos ai inúmeros exemplos desse tipo de covardia que mancha a imagem de qualquer jogador.
    Achei o tema muito bem colocado.

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  6. Cara, chegar no meio de uma discussão dessas tentando limpar a barra dos RPGistas seria meio besta, a menina ía achar só idiota.

    Melhor mesmo era todo mundo segurar o moleque e dar bronca nele, ou algo assim. Não bater, nem nada, mas um cara desses é maluco, e merece ser banido de um espaço assim.

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  7. Em outras palavras: se você leva um soco de um membro do grupo X, a última coisa que você quer ouvir naquele momento é que o grupo X é bonzinho ou coisa parecida.

    Você vai acabar com a imagem de que membros do grupo X são violentos e babacas.

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