quinta-feira, 3 de abril de 2025

Eu li: Golandar, o paladino


  Não é de hoje que a literatura brasileira nos presenteia com grandes nomes da fantasia, de todas as vertentes possíveis. Autores como Leonel Caldela (com a trilogia Tormenta e A Lenda de Ruff Ghanor), Ana Lucia Merege (O Castelo das Águias) e Eduardo Kasse (com a excelente coleção de ficção histórica, Tempos de Sangue) só mostram que o brasileiro sabe sim, falar de fantasia de um jeito diferente, inovador e com um toque muito bom de brasilidade.

  Existem muitos outros, é claro. Cada um com direito de ter seu pedacinho ao sol, disputados a cada ano por uma quantidade significativa de autores. Muitos tornam-se sucedidos por um breve período e caem no esquecimento. Outros, no entanto, conseguem enxergar mais longe e traçar um caminho mais consolidado, para si e para sua obra. E é por isso que vamos falar de Golandar, o paladino.

O livro de Golandar

  Sinopse: Um paladino chamado Golandar desperta com seus companheiros em um mundo onde a magia foi esquecida. Eles enfrentam o desafio de descobrir suas identidades e seus propósitos dentro de um cenário cenário desconhecido, mas aparentemente familiar. A jornada do grupo é contada pela visão do paladino, enquanto eles buscam conhecer as razões de sua existência e o papel que devem desempenhar neste novo mundo, explorando temas de redescobertas, aventura e o impacto da magia na identidade e destino dos personagens.

  Golandar, o paladino foi escrito por Roberto Teixeira Gomes Rodrigues, 51 anos. O autor nasceu no Rio de Janeiro e se mudou para Bagé quando criança, morando atualmente em São Paulo. Suas experiências com o RPG na adolescência foram o ingrediente principal para conceber o livro, utilizando-se de suas sessões de jogo como fonte narrativa para a história.

  O livro tem uma abertura interessante, onde os heróis sem memória despertam de um sono mágico em um lugar totalmente desconhecido. Dali em diante os aventureiros precisam descobrir mais sobre sua identidade e é claro, o por quê da magia ter desaparecido. O começo do livro inicia-se devagar, mas não é um defeito, e sim uma maneira interessante de construção do cenário, passo a passo, permitindo que o leitor conheça-o da mesma forma que os heróis.

  Os personagens, principalmente os protagonistas, são muito bem escritos e detalhados. O livro segue uma linguagem moderna e bem acessível ao leitor. A ação vai aparecendo aos poucos no segundo ato e a obra finaliza com um capítulo incrível sobre... Bem, melhor você ler pra saber. Não vou estragar a melhor parte do livro.

Golandar desenhado por IA a partir da descrição dada pelo autor

  O autor também denota muita capacidade em transcrever sessões de RPG para caberem num livro. Isso é bem difícil, pois coisas de uma mesa de jogo dificilmente ficam boas em livros (o contrário também é difícil - é trabalhoso converter coisas de um livro para uma mesa de jogo). 

  Essas adaptações precisam ser analisadas de modo a transpor o conteúdo de uma mídia para outro sem perder o propósito a que se destinam. Mas em Golandar, o paladino, isso acontece de forma fluída e transparente. Aqui percebe-se também que apesar de se originar em um produto de língua inglesa, o livro não traz anglicismos, e os nomes estranhos e diferentes muitas vezes escondem bons easter eggs.


Mas nem tudo são flores

  Nada é totalmente perfeito em Golandar, o paladino. Primeiramente existem erros gramaticais que com certeza seriam pegos em uma boa revisão. Há um excesso de explicações no texto, como uma certa "grama que não cresce depois de certa idade" que é explicada uma vez e depois de novo na página seguinte. Em alguns casos, a explicação repetida de cenários, itens ou personagens acontecem em diálogos, e quem os fala se torna repetitivo e chato.

  Há também alguns pontos do livro que carecem de coesão, ou seja, um pouco mais de sentido. Mas assim como os erros gramaticais, seriam pegos numa boa revisão. Mas o que mais me chamou a atenção foi a falta do "Mostre, não conte". Essa técnica tem por objetivo mostrar ao leitor o que está acontecendo (ou o que aconteceu) ao invés de narrar tudo de forma corrida e expositiva. 

  Apesar do livro ser narrado pelo personagem título, ainda seria possível melhor imersão com descrições mais focadas nas ações, expressões sensoriais e outros pontos. Contar, ao invés de mostrar, pode empobrecer o texto. Aliás, se a história não fosse boa o suficiente pra se garantir nesse tipo de narrativa, as coisas teriam ido para o buraco.


Conclusão

  Golandar, o Paladino, é uma obra muito boa, com uma leitura fácil e acessível. Roberto Rodrigues pretende lançar ainda a continuação dessa história, em outros sete livros. O próximo é Emma, a curandeira, onde se espera que esses erros iniciais sejam retirados, considerando que os livros saíram de uma produção independente para uma atual produção editorial. 

Emma, a curandeira será o próximo livro a ser lançado.

  Acredito que se deve dar uma chance para conhecermos autores nacionais, pois temos muitas boas obras aqui que rivalizam com as de fora. Golandar, o paladino pode ser uma obra com alguns defeitos, mas está longe de ser ruim e dar um chance ao livro não é uma perda de tempo.

Importante: sempre que possível, importune um autor pedindo spoilers do livro que estiver lendo. Eles adoram isso! #ContemIronia

Nota: 4/5.

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