sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Eu vi: Star Trek:Picard - Episódio 01 (Recordações)

  Em 2016, a CBS anunciava o futuro lançamento de uma nova série de Jornada nas Estrelas (Star Trek) para seu serviço de streaming, o CBS All Access. E era fora da linha de tempo alternativa que havia sido criada pelo filme de 2009, dirigido por J.J. Abrams. Ou seja, era totalmente canônico! E os fãs brasileiros podiam vibrar ainda mais: a série seria exibida no Brasil pela Netflix.

  Tratava-se de Star Trek: Discovery.



Pôster de divulgação da primeira temporada
de Star Trek:Discovery
  É importante começar falando de Discovery (que já está indo para sua terceira temporada) por que ela fala muito sobre a expectativa que recaiu sobre Star Trek:Picard, anunciada em 2018. Na época, foi alardeado que Discovery se passaria dez anos antes da Série Clássica, que a Enterprise não seria a nave protagonista e que, com sorte veríamos o capitão Christopher Pike em ação (uma das partes mais elogiadas da série, diga-se de passagem)...

  Mas chegou setembro de 2017 e fomos apresentados a uniformes não muito coerentes com a época da Série Clássica, uma nave tecnologicamente superior a qualquer outra da Federação, uma protagonista que não se sustenta sozinha e uma história que fere parte do cânone conhecido para criar uma justificativa para o surgimento da Seção 31. Por melhor que Discovery fosse (acho que a série acerta mais do que erra), os fãs protestaram com dizeres do tipo "Discovery não é Star Trek". De fato, um dos problemas da série é tentar se sustentar sendo apenas mais um show de ficção científica, sem trazer a carga filosófica, a critica social e personagens mais profundos que estamos acostumados desde a Série Clássica. Por isso, quando Patrick Stewart aceitou interpretar um dos capitães mais famosos da história da ficção científica, muitos fãs ficaram com as orelhas mais em pé que Vulcano desconfiado.

  No entanto, ninguém precisa ficar preocupado.

Enterprise-D no início do episódio
  Diferente de sua antecessora, a série Star Trek:Picard é transmitida no Brasil pelo serviço de streaming Prime Vídeo, da Amazon. Uma surpresa e tanto, considerando que as empresas são concorrentes.

  A série começa com um enquadramento utilizando-se de imagens reais do espaço, cedidas pela NASA, pra então mostrar a Enterprise-D, que o consagrou como capitão por sete temporadas. É apenas um sonho, é claro, mas a participação de Data (interpretado sempre por Brent Spiner) e os detalhes da cenografia do Bar Panorâmico mostram um profundo respeito pela Nova Geração. Somos apresentados a um Picard mais idoso, aposentado, isolado de tudo e de todos no Chateau Picard, vinhedo secular de sua família. Aos poucos vamos reconhecendo o velho capitão, e vemos a razão pela qual optou pela aposentadoria e afastamento da Federação. A história de Jornada nas Estrelas nos é atualizada, mostrando como a Frota Estelar mudou muito em pouco mais de vinte anos desde Nêmesis.

  A fotografia da série é limpa, nostálgica e vibrante. Faz parecer um filme e nos traz muito próximo ao personagem. As representações de Boston, Paris e Okinawa do século XXIV são realistas, modernas, e são tão bem feitas que nos transportam para cada um destes lugares no futuro. Nada é caricato ou forçado. De fato, como sendo o episódio que mais mostra a Terra em toda franquia, a produção tratou de nos mostrar o quão longe podemos ir sem perder a nossa identidade.

Um dos melhores diálogos do episódio

  O aspecto de crítica social continua presente em Picard, assim como é tradicional na franquia. Preconceito, refugiados, guerra, aprendizado, e principalmente, respeito à figura do idoso: que tanto fez pelo seu passado, mas é ignorado pelo seu presente. Essa é sem duvida, uma das formas a qual Picard é representado dentro deste futuro um pouco menos otimista. O acesso a informação, a defesa da soberania das fronteiras, a alienação das massas, tudo isso é retratado com seriedade, como um reflexo de nossa sociedade atual.

  O roteiro é coeso, devagar sem ser lento em excesso com doses de ação no momento certo. De fato, não é preciso ter muito conhecimento em Jornada nas Estrelas para assistí-lo (embora ao menos saber da existência d'A Nova Geração seja essencial). A obra faz as devidas apresentações, além de nos atualizar de forma gradual aos acontecimentos recentes. Os novos personagens tem vez e lugar, cada um com sua importância. Pela primeira vez na história da Nova Geração, teremos episódios realmente serializados, cada um finalizando com um gancho pro próximo, fechando uma história completa ao fim da temporada. Discovery até tentou, mas nem todos os seus episódios terminavam com gancho ou faziam parte do enredo principal.



  Star Trek:Picard é um prato saboroso, daqueles de se apreciar a bocados pequenos pra não acabar logo. De fato, os 44 minutos do primeiro episódio passam como se fossem quinze, deixando um "gostinho de quero mais" na boca. Uma obra prima da TV (e do streaming) que honra um legado cinquentenário, totalmente atualizada, agradando fãs antigos e aqueles que nunca viram a série antes. Vida Longa e Próspera à Jornada nas Estrelas! Seja bem vindo de volta, capitão!


  Nota 5:5.

  Ficha Técnica
  Nome Original: Remembrance
  Roteiro:  Akiva Goldsman & James Duff
  Direção: Hanelle M. Culpepper
  Elenco: Patrick Stewart (Jean-Luc Picard), Isa Briones (Dahj).
  Participação Especial: Brent Spiner (Data)

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