quarta-feira, 14 de setembro de 2011

A mensagem - Parte III

Capa do livro "Espada da Galáxia"
  O conto "A mensagem" é baseado no universo criado por Marcelo Cassaro no seu romance "Espada da Galáxia". Este conto se passa depois da chamada Guerra Traktoriana, onde seres humanos combatem invasores robóticos e homens insetos prateados. Se tudo correr bem, acabamos de chegar na metade da história.
  Anteriormente, em "A mensagem": Dez anos após o fim da Guerra Traktoriana, os metalianos ainda tentam reconstruir o império. Através de um decreto, a Imperatriz Primária proíbe todas as viagens de exploração espacial. Este decreto é questionado quando a possibilidade de vida biometálica fora do planeta é encontrada por uma sonda que desaparece misteriosamente. Através de uma missão de defesa montada as pressas, os metalianos querem descobrir o que raios aconteceu com a sonda e se isso tem a ver com a vida biometálica por ela detectada.


  Lora Lorey estava de pé na plataforma da doca seca que orbitava ao redor de Predakkon, a maior lua de Metalian. Bem à sua frente estava Parsec, uma das bionaves mais conhecidas em operação na Frota Exploratória. A bionave tinha formato elípitico, o couro mesclado com alguns poucos implantes tecnorgânicos. Tinha em torno de 250 metros de largura e quase cem de espessura no centro. Parsec era cercada por uma forma bem tênue de energia esverdeada, que desaparecia de vez em quando para dar acesso a alguns “poros” no couro da nave, permitindo que um robô de manutenção entrasse em seu interior. Trazida por grandes rédeas metálicas e se mostrando um tanto mau humorada, Parsec passou as duas últimas semanas sob a supervisão de Lora, reparando e atualizando sistemas.
  Lora era uma metaliana alta, com patente de engenheira-médica de primeiro escalão. Sua pele era prata, com um gradiente azulado que a deixava muito bonita. Seus olhos eram verdes azulados. Durante mais de dez anos, Lora servira na Frota Exploratória como uma das melhores médicas-engenheiras. Possuía seios grandes e arredondados, que deveriam ser usados como reserva energética quando ela se tornasse mãe, uma incubadora — uma metaliana que, após receber o Código Matriz através das mãos da própria Primária, geraria um descendente. Infelizmente agora ela não poderia dar-se esse privilégio devido ao trabalho.
  Ao contrário de outros na Frota, não ficou chateada com o cancelamento do programa espacial. Suas habilidades permitiam que ela se sentisse útil ao seu planeta, reconstruindo a cidade e salvando metalianos feridos. Mesmo assim, não conseguiu esconder a felicidade que teve ao receber em seu alojamento um aviso de convocação feito pela própria Imperatriz para integrar uma equipe em uma missão espacial. 
  Um pequeno cargueiro operado por robôs se aproximava da entrada de carga da bionave. Parsec tremeu de descontentamento, oscilando seu campo de força e fazendo a plataforma vibrar. 
  — Está tudo bem, garota — disse a oficial — está tudo bem.
  — Sua bionave tem causado um certo transtorno aqui na doca. — respondeu o chefe de operações, enquanto conferia as autorizações dos equipamentos.
  — Oito anos confinada em um curral, orbitando uma lua sem graça e sem ver o seu melhor amigo. — respondeu Lora indiferente — até você ficaria mau humorado, chefe. Não a culpe. Parsec é uma das melhores bionaves que tive chance de trabalhar.
  Um sinal de rádio em formato específico atingiu a antena de ambos os metalianos, indicando a aproximação de uma nave de transporte. O chefe de operações respondeu ao sinal, autorizando a nave a atracar em uma plataforma paralela. Minutos depois, após as manobras de estacionamento, a nave se abre e dela saem dois metalianos. O primeiro a descer aparenta ser bem mais jovem que o chefe de operações ou que a própria Lora. Não era tão musculoso quanto um soldado metaliano, mas parecia ter recebido treinamento físico recentemente. A pele era prateada, mas quase sem birlho e seus olhos eram escuros como rochas. O metaliano hesita por um momento na plataforma, observando a bionave. Os implantes colocados nas antenas dele emitem um pulso de microondas, vasculhando cada pedaço da criatura ancorada. Parsec se sente incomodada e emite um rugido, inaudível a qualquer um no espaço, mas perceptível aos sensores de rádio dos metalianos. O jovem então toma a esteira rolante que une as plataformas da doca seca enquanto um segundo metaliano desce cauteloso da nave de transporte.
  — Parlak Paros, piloto e oficial tático. Fui convocado para se apresentar à Dekker, responsável pela missão.
  — Foi um comportamento totalmente desnecessário, piloto. — disse Lora, repreendendo o outro. E completou: — Dekker ainda não chegou.
  — Lamento, não foi a minha intenção. Eu simplesmente não acreditei que finalmente ia ao espaço e ainda mais... Nesta bionave!
  — Achei que não se necessitava de uma equipe para dirigir uma bionave. — disse o chefe de operações.
  — Normalmente, exploradores solitários conseguem controlar uma bionave sozinhos. — respondeu Lora.  — Mas esta é uma missão de defesa e de pesquisa. Cada atividade precisa ser desempenhada ao máximo para o bom sucesso da tarefa.
  O chefe de operação ia fazer um comentário, mas foi interrompido pela chegada do segundo metaliano. Timido, ele tivera muito receio em descer da nave de transporte. Levou alguns minutos se familiarizando com o espaço e precisou se apoiar na barra de proteção enquanto usava a esteira rolante.
  — Sagrada Mãe Galáxia, isso é... agorafóbico! — disse ele com receio. O olhar curioso dos demais metalianos fizeram o peito dele se avermelhar. — Sou Poltrix, astrólogo nível II, responsável pela análise de dados astrológicos da missão. 
  — É a primeira vez dele no espaço. — respondeu Parlak em tom irônico, apontando o cientista com o polegar. Depois voltou-se para Poltrix, que ainda olhava tudo desconfiado — Curiosamente, o responsável pela missão ainda não chegou.
  Parsec rugiu novamente quando a entrada de carga foi definitivamente fechada pelos robôs. Lora ligou seu leitor eletrônico e vários símbolos iluminaram a tela. Ela sabia muito bem o que representavam:
  — Todos os equipamentos funcionando perfeitamente, mas as leituras biológicas do nosso transporte estão consideravelmente alteradas. — a metaliana digitou alguns comandos e uma porta oculta se abriu, e foi se inclinando até criar uma ponte entre a plataforma e a bionave. — Poderemos embarcar assim que o responsável pela missão se apresentar.
  Outro sinal de rádio com a mesma freqüência específica atingiu a plataforma. Uma outra nave de transporte solicitou permissão para atracar e obteve permissão do chefe de operações. Minutos depois, a esteira rolante começou a se movimentar, trazendo um metaliano sobre ela. Lora reconheceu-o imediatamente. A posição firme e confiante, mas com o olhar perdido e curioso o tornava único entre todos os metalianos que ela conhecia da Frota. Um dos braços do metaliano que se aproximava pulsava com um vermelho quase imperceptível. Já o tinha visto algumas vezes, mas nunca teve a oportunidade de falar com ele. 
  O metaliano se aproximou da bionave devagar. Imediatamente ela rugiu, mas de forma diferente. Todos os microsensores do casco focalizam no indivíduo e como uma densa pelagem, eles se movimentaram e o escanearam. O campo de força da Parsec oscilou e desapareceu, sem que Lora tivesse que acionar seu controlezinho.
  — Também senti sua falta. — disse ele esticando o braço em direção a grande criatura, como se pudesse tocá-la. A bionave se aproximou demais da plataforma, trombando com as amarras e sacudindo a esteira rolante. 
  — Devagar, senhor! A bionave pode nos derrubar da plataforma e...
  — Nunca abraçou um velho amigo, senhor? — retrucou o metaliano para o chefe de operações. Seu olhar era frio, mas o mudou a tonalidade dos olhos ao se dirigir para os membros da tripulação de modo cordial — Para os que ainda não me conhecem, sou o recém condecorado almirante Daion Dairax e estou substituindo o capitão Dekker como responsável por esta missão. Fiz o pedido pessoalmente à própria Imperatriz Primária, quando recebi o informe sobre esta viagem. Não vou deixar outro traseiro gordo sentar no colo da minha menina. Espero vocês lá dentro, para uma rápida conversa antes da gente colocar o pé na estrada.
  Por fim, subiu na ponte e entrou na bionave como se aquilo fosse um passeio de domingo. 
  — Traseiro? — perguntou Parlak. — O que é isso?
  — Passar por cima de um companheiro de frota não é antiético? — disse Poltrix subindo na ponte
  — Pode ser. — respondeu Lora entusiasmada, seguindo o comandante — Mas as chances de voltarmos pra casa em segurança acabaram de dobrar. 
  O chefe de operações, que ouvia toda conversa, ficou se perguntando que perigo havia em uma missão científica, mas achou prudente guardar a pergunta para si.

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