quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Kiai! Resenha de "Império de Jade"

 
Capa do Livro Império de Jade.
"A Tormenta foi derrotada. Após longos anos de devastação, Tamu-ra está livre dos demônios aberrantes. É tempo de reconstrução, de curar feridas. De recuperar a terra natal.
  Mas o novo Império também enfrenta desafios. Hordas bakemono invadem seus territórios. Urros dos gigantescos kaiju trovejam ao longe. Famílias mafiosas e clãs ninjas agem nas sombras. As terras conspurcadas pela Tormenta ainda despejam pesadelos sobre o mundo. Tamu-ra precisa de seus heróis.
  Império de Jade é um jogo de aventura sediado no mesmo universo de Tormenta, o maior RPG do Brasil. Samurais honrados, artistas marciais extremos, ninjas furtivos e outros heróis unem-se em nome do Imperador para proteger Tamu-ra e restaurar a honra do Deus-Dragão."
  Se você curte aventuras orientais, cenários asiáticos e toda gama de elementos pitorescos que esse tipo de ambientação traz, esse livro é pra você. Império de Jade vem preencher um espaço que faltava para aventuras orientais no Japão Feudal que não existia em português desde muito tempo!
  Confesso que não sou um fã ardoroso deste tipo de cenário. Mangás, animês, cultura japonesa não são elementos muito frequentes no meu cardápio pop. É claro que existem várias exceções (Cavaleiros do Zodíaco, Bakuman, Changeman, Jaspion e tantos outros elementos famosos e comuns). Portanto, lá na primeira década dos anos 2000, se eu não estiver enganado, quando a Devir trouxe Aventuras Orientais, baseado no sistema de regas D20 da edição 3.5, não dei muita bola. Um amigo meu comprou, achei o livro bonito e não me recordo de termos jogado.
 
Por baixo da proteção
Quando Tormenta chegou, misturando ambientações de fantasia medieval com anime, mangás e até um pézinho em steampunk, comecei a abraçar certas diferenças que me divertiam muito. Sid, o Verde, um meio-elfo ladino de cabelos verdes esteve presente em várias de minhas aventuras. E me recordo vagamente de uma ranger elfa com pés e orelhas de gato. Aos poucos essas modificações foram sendo entendidas por mim e aceitas na minha aventura.
  Não foi surpresa então quando, numa conversa informal, meu grupo tocou na ideia de jogarmos aventuras orientais. Mas orientais de fato, não um medievalismo travestido, como ocorre em muitas mesas. O problema é que todos nós carregamos bem pouco de cultura oriental conosco para que realmente tivéssemos capacidade de construir a ambientação que gostaríamos. Precisávamos de um livro que nos orientasse e nos mostrasse um cenário oriental ao nosso gosto.
  Já encontramos.
  Império de Jade é um lançamento recente da Jambô Editora para o cenário de Tormenta. Trata-se de um livro completo, com regras próprias (e muito parecidas, e por que não dizer, compatíveis com Tormenta RPG). Além de trazer uma ambientação muito parecida com o Japão Feudal dentro de Arton, o livro é muito lindo e bem feito, totalmente colorido, com ilustrações maravilhosas, utilizando papel couché de alta gramatura, capa dura e uma sobrecapa protetora. 

  Introdução 
  A história parcial do continente de Jade, Aspectos e mapa da Ilha de Tamu-ra, uma explicação rápida sobre o que é RPG e a mecânica do livro, um glossário de termos orientais do livro e o mais importante: "Dez Coisas a Saber", sobre a "etiqueta" do livro e do cenário. Aliás, este pequeno e ultimo tópico é fantástico.

  Capítulo Um: Construção de personagem. 
  Aqui somos apresentados a uma nova Habilidade chamada Honra, que mede integridade, honestidade e coragem, além de determinar sua posição social e interação com os demais personagens. Neste capítulo temos todas as raças do Império de Jade (que tem precedência sobre as suas versões que já possam ter sido apresentadas em outros livros). Temos disponíveis 8 raças:
  • Humanos (por que não, né?)
  • Hanyô: meio-youkais, são descendentes da união de humanos com espíritos ou criaturas como extraplanares. Bem parecidos com os meio gênios de TRPG.
  • Henge (ou hengeyoukai, os espíritos metamorfos): são metamorfos que conseguem se transformar em animais. Não estamos falando de lobisomens ou homens-ursos, a temática dos henge é bem diferente, a começar do fato de que não estão amaldiçoados.
  • Kaijin: lembram-se do lefou do manual básico de TRPG? Pois aqui eles receberam uma turbinada e se tornaram uma versão bem mais porradeira, muito parecida com as esquisitices de Black Kamen Rider.
  • Mashin: você quer brincar de Full Metal Alchemist? Pois esta classe, pra mim um tanto deslocada neste cenário, é constituída de constructos mágicos movidos a elementais que os tornam máquinas quase vivas.
  • Nezumi: o povo rato. Não são metamorfos, nem amaldiçoados. São selvagens humanóides com aspecto de roedor.
    O povo rato
  • Ryuujin: o povo meio-dragão, descendente do deus dragão Lin-Wu.
  • Vanara, o povo macaco. Alguém aí falou em kung-fu?
  O livro traz também novas classes e roupagens novas para classes já conhecidas (como o samurai e o monge). Aqui a idéia foi tentar manter a adaptabilidade das classes já existentes, mas como uma mecânica melhor e mais voltada para este cenário. 
  • Bushi: o soldado de infantaria do exército ou milícia local.
  • Kensei: o especialista cerimonial em armas e combates.
  • Monge: não muito diferente do livro básico.
  • Ninja: parecido com aquele disponível no Manual do Malandro, mas com jutsus ao invés de truques. O que são jutsus? Falaremos deles mais tarde.
  • Onimusha: o caçador de monstros do Império. Se você olha para o abismo, o mesmo olha pra você. Nesse caso, dê uma piscadinha e abrace o lado negro. É por uma boa causa!
  • Samurai: Parecido com a classe do livro básico de TRPG, mas com algumas diferenças interessantes, como a manipulação de Honra.
  • Shinkan: o lado espiritual de Tormenta nunca foi tão ativo quanto no Império de Jade, inclusive no lado religioso. Então nada melhor que uma classe capaz de se comunicar com eles!
  • Shugenja: os sacerdotes do deus dragão
  • Wu-jen: os feiticeiros arcanos do lado oriental.
    Wu-jen: vai esperar pela bola de fogo?
  • Yakuza: Sabe aquele incômodo que precisa desaparecer? Ou aquele equipamento que você precisa, mas é melhor não perguntar de onde veio? Uma classe especializada em atrapalhar os adversários (ou simplesmente tirá-los do caminho de forma não convencional).
  O capítulo traz ainda uma explicação sobre o sistema de honra e sobre aquilo que o faz ganhar ou perder pontos de Honra ou como a Honra pode afetá-lo durante o jogo. Tem também uma rápida explicação sobre Nomes dos personagens, o sistema de castas feudais, a religião (Lin-Wu, A Família Celestial e o Bushintau).

  Capítulo Dois: Talentos e Perícias
 
Algumas ilustrações são velhas conhecidas...
As perícias de Império de Jade não são diferentes das perícias do livro básico de TRPG, utilizando-se do recurso de perícias de classe, perícias treinadas e outras perícias. A lista de perícias, inclusive, são as mesmas. No entanto, o uso declarado de algumas perícias como Ladinagem, por exemplo, podem diminuir a Honra do personagem.
  Em relação à talentos, temos Talentos de Jutsus substituindo e complementando os talentos metamágicos, os talentos de Poderes Concedidos de Lin-Wu, Família Celestial e Bushintao e uma explicação mais detalhada sobre o funcionamento dos talentos obtidos em classe e aqueles recebidos.


  Capítulo três: Armas e Equipamentos
  Ficamos sabendo que o Império adotou o Yan (Y), moeda local com relação 1:1 com o Tibar. Há uma pequena explicação sobre moedas e vamos para as armas. Diferente do livro de TRPG, todas as armas possuem ilustrações (ao menos, todas as armas orientais). E elas são bastante e bem explicadas, convivendo ao lado da espada longa, cimitarra ou funda. O mesmo vale para as armaduras, todas orientais. Alguém teve um bom trabalho em catalogar as armaduras reais e trazê-las para a ficção. Itens e Serviços não mudam muito do livro de TRPG, exceto pelas vestimentas, como quiomonos, pequenos adereços e utilitários, totalmente novos e ambientados.

  
Tem de todos os tamanhos e pra todos os gostos
  Capítulo 4: Jutsus
  Acenda seu cosmo, busque o sétimo sentido, levante as mãos no Genkidama ou dispare o Kamehameha. Chame do que quiser, mas dentro do livro, todas essas manobras especiais ou marciais são chamadas de jutsus. Um sistema de magia, que não é exatamente magia, mas funciona de forma muito semelhante. Criaturas imunes a magia não são imunes a um jutsu e vice-versa. Mas uma criatura sensível ao fogo sofrerá com magia de fogo ou jutsu de fogo - por que o descritor é o mesmo.
  Os jutsus são baseados nos chacras e existem um para cada habilidade. Ao "abrir" um chacra, o personagem pode utilizar os jutsus ligados a ele. Diferente das magias, que são divididas em níveis, os jutsus são divididos em graus (básico, mediano, avançado, sublime e lendário).
  Jutsus são ativados com Pontos de Magia (bem parecido com o esquema de feiticeiros e bardos), e podem sofrer modificações, em alguns casos, mediante ao gasto de Pontos de Magia extras, como causar mais dano com uma Explosão de Fogo ou ainda deixar todo mundo do grupo invisível, ao invés de somente a si próprio.

  Capítulo Cinco: Jogando
  Nada muito diferente de TRPG aqui. Mostra como fazer testes (simples, estendidos e resistidos), como funciona o combate, os tipos diferentes de ações, ferimentos e morte. 

  Capítulo Seis: Mestrando
  Uma pincelada sobre o que é mestrar, a construção de ambientações e de PDMs. Deslocamento de viagens, custo de vida, condições climáticas e encontros. 
 
  Capítulo Sete: Bestiário
 
Este capítulo é bem especial. Em TRPG temos como adversarios Animais, Constructos, Espíritos, Humanóides, Monstros e Mortos-Vivos; Império de Jade substitui este último pelos Youkai (mesmas criasturas, mas com maior abrangência). 
  Criaturas lendárias, como o cão-leão e a salamandra gigante, passando por titãs (Atack On Titan?), o livro traz alguns exemplos de criaturas especificamente orientais. No entanto, criaturas do Livro de TRPG (e dos Bestiários) podem ser utilizadas normalmente.


  Capítulo Oito: Recompensas
 
Essa "recompensa" lhe parece familiar?
Uma explicação sobre Pontos de Experiência, tesouros obtidos em combate, gemas, elementos obra-primas e é claro, itens mágicos. Além disso, há uma explicação muito bacana sobre como estes itens mágicos funcionam e como alguns deles se relacionam com os jutsus.
  Um ponto interessante do livro são as demais recompensas que os personagens podem receber, como uma reputação reconhecida e aliados.


  Capítulo Nove: Shinkyo, A Nova Capital. 
  Da mesma forma que TRPG trazia um capítulo exclusivo destinado a Malpetrim, este livro traz um capítulo destinado à Shin'Yumeng, a nova capital do Império de Jade. Assim como a correlata Malpetrim, este é o cenário mais amigável para iniciar suas aventuras de Império de Jade, uma vez que a cidade é também a mais favorável em relações com estrangeiros. O capítulo finaliza com explicações sobre bairros importantes, organizações relevantes e personalidades conhecidas do cenário.



  Império de Jade não é tão extenso quanto seu irmão mais velho, o Tormenta RPG (Básico, Revisado e da Guilda), chamado por isso de Tormentão. Pelo contrário, ele é enxuto e objetivo, colorido, bonito e bem acabado, com uma proposta bastante interessante e ao mesmo tempo, diferente. Apesar do preço um pouco salgado (R$ 169,00 mas você pode achá-lo em promoção em algumas livrarias), o livro demonstra a que veio e se você tirar um pouco o preconceito de lado, como eu fiz, tenho certeza de que irá se divertir bastante. 

  Ficha Técnica:
  Império de Jade é um módulo básico completo, com tudo que você precisa para construir personagens e conduzir grandes sagas.
  Autores: Marcelo Cassaro, Álvaro Freitas e Guilherme Dei Svaldi.
  Ilustrações: Edu Francisco, Erica Awano, Marcelo Cassaro e muitos outros.
  Formato: 20,5 x 27,5 cm, 336 páginas, capa dura, colorido.
  Jambô Editora

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