sexta-feira, 19 de agosto de 2011

A mensagem - Parte II

  Anteriormente: Como pode ser visto aqui, os metalianos tentam se reerguer após o fim da Guerra Traktoriana. E quando uma de suas estações de pesquisa está prestes a ser desativada, eles fazem uma descoberta inusitada. Baseado no universo de Espada da Galáxia, de Marcelo Cassaro. E se você achou ruim, achou uma merda ou simplesmente achou legal e tem mais sugestões, deixe um comentário. Ou escreva para o meu e-mail (arparolin@gmail.com).


  A Imperatriz e Mãe de todos os metalianos chamava-se Primária. Era muito bonita, mais do que qualquer metaliano no planeta e mais do que qualquer um de sua raça jamais foi. Ela era única em Metalian e apesar de ter milênios de idade, ainda trazia em seu corpo o frescor da juventude. Seu corpo biometálico reluzia mesmo com a pouca claridade do ambiente. Ela possuía três pares de antenas, um sobre a cabeça, imitando uma coroa, outros dois nas costas, e um terceiro nos tornozelos. Havia uma fina membrana unindo as antenas das costas com as antenas dos tornozelos, “vestindo” a Imperatriz como um manto de seda suave.
  Ela estava em pé no centro da sala de conferências do Palácio Imperial. Ao seu lado na mesa estavam todos os relatórios enviados pelo Centro de Estudos Astrológicos, gravados em placas pequenas com ranhuras preenchidas por ondas de rádio. Primária estava dividida. Por um lado, seu espírito maternal se encontrava agitado e preocupado com a idéia de ter seus filhos novamente soltos no espaço. Por outro, sua alma racional dizia que finalmente encontraram aquilo que sempre procuraram: outros iguais a eles. Mas e se esses “outros” não forem tão benevolentes quanto os metalianos ou forem tão irracionais quanto eram seus filhos há séculos e séculos atrás?
  Um soldado adentrou na sala com cautela e, fazendo pequena reverência, anunciou:
  — Imperatriz, o doutor Mollon Meriax está aqui para vê-la.
  — Peça para entrar, Kirux.
  — Sim, Majestade. — disse o soldado, fazendo outra reverência e saindo silenciosamente.
  Logo depois outro metaliano entrou na sala. Sua pele metálica acinzentada pareceu perder o brilho quando ele se aproximou de Primária. Mollon mantinha a cabeça baixa, tinha o andar desajeitado e possuía pouca estatura até mesmo para um metaliano. Uma vez dentro da sala, ele não manifestou nenhuma reação até Primária dizer algo:
  — Eu gostei dos relatórios que você fez. Diferente de muitos outros cientistas, você não pretende dar uma "nova visão" ao Império.
  — Não quero fazer nada que a desaponte, Majestade. Apenas procurei ser objetivo em minha análise.
  — Mas mesmo assim, os dados não conferem. Mesmo que exista vida biometálica em algum lugar deste sistema não mapeado a que você se refere, e mesmo que a mensagem tenha levado um ano e meio para chegar até nós, a sonda jamais teria conseguido se deslocar 35 anos luz de distância por conta própria.
  — Sim, Vossa Majestade tem razão. Por isso, trabalhamos com a hipótese de que alguém ou alguma coisa a tenha levado.
  Primária caminhou pela sala, o seu "véu" balançando lentamente na atmosfera rarefeita do planeta. Isso começava a piorar as coisas. Deu a volta na mesa de reuniões e sentou-se em uma das cadeiras, apontando uma cadeira para Mollon. Ele arrastou a cadeira pelo chão de cerâmica causando um ruído incômodo, mas por serem desprovidos de sistema auditivo, nenhum deles ouviu.
  — Esse “alguém” pode ser a vida biometálica que foi detectada? — perguntou a Rainha Imperatriz, com medo.
  — Ainda não sabemos — respondeu Mollon — e é por isso que solicitei essa reunião. Proponho... Bem... Como dizer... Uma missão espacial.
  — Inadmissível! — disse a Imperatriz, em tom enérgico. Mollon baixou a cabeça, envergonhado — O decreto imperial é claro no que se refere a novas missões de exploração espacial.
  — Mas não é claro no que se refere a missões de defesa. — respondeu Mollion, com um pouco de receio. O desagrado da Imperatriz era algo que ele não queria ter de encarar — A missão espacial que mencionei não é, de modo algum, uma maneira de irmos ao encontro da forma de vida desconhecida. Queremos descobrir se quem levou a sonda pode ameaçar a segurança deste planeta.
  Primária recuou. Seus filhos estavam fazendo política! Pega de surpresa, o peito de Primária enrubesceu por um instante. Se sua anatomia tivesse permitido, ela teria sorrido. O cientista estava correto, apesar de tudo. O decreto imperial cancelava todas as missões exploratórias previstas ou em andamento, mas não falava nada sobre missões de defesa. Inclusive, se as missões de defesa fossem canceladas, várias bionaves deveriam ser chamadas de volta de suas buscas por sobreviventes, das patrulhas do perímetro de Metalian ou do transporte de matéria-prima para reconstrução do Império. Realmente, missões espaciais de defesa ainda estavam em andamento.
  — Está jogando comigo, doutor Mollon Meriax. — retrucou a Imperatriz de modo sério — Mas desta vez eu irei entrar no seu jogo. Qual o curso de ação que você sugere?
  — Perdão, Majestade. — disse Mollon fazendo uma mesura — Nunca foi minha intenção tratá-la deste modo. Eu conversei com o nosso Departamento de Defesa antes de vir pra cá. Definimos um plano de ação baseado nos fatos ocorridos e chagamos a uma solução, que eu apresento agora à Vossa Majestade.
  Mollon depositou uma placa magnética sobre a mesa. Imperatriz segurou a placa diante de si e permitiu que suas antenas varressem o conteúdo da mesma. “Leu” atentamente cada item, demorando-se muito no documento. Por fim, voltou-se para o cientista e disse:
  — Estou disposta a aceitar seus argumentos. No entanto, assim como todas as missões de defesa interplanetárias, essa também estará sujeita a todas as penalidades do meu decreto sobre violação do território delimitado para vôo espacial. A bionave que participará da missão deverá estar sob monitoramento constante.
  — Eu não pediria diferente, Majestade.
  — Neste caso, terminamos por aqui. — disse Primária erguendo-se — Aguarde as minhas ordens oficiais.
  Mollon Meriax despediu-se e saiu da sala. Primária permitiu-se um momento de reflexão. O jogo político nunca foi o forte de seu povo, e ela via isso como um traço de evolução. Mesmo assim, não poderia descartar o risco da missão. Olhou mais uma vez para o documento do cientista que ainda estava em cima da mesa.
  Seus filhos, tão longe de casa. Mas ainda podia fazer algo por eles antes que partissem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu comentário após o sinal!