segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Uma cápsula para acordar - Parte III

  OK, vocês venceram. A terceira parte não é a final. Mas juro por tudo o que é mais sagrado que termina na próxima! Quer ver o capítulo anterior? Clique aqui.



  O guarda-roupa estava com todas as portas abertas. Algumas trocas de roupas estavam caídas no chão, outras estavam reviradas dentro do móvel. Não dava para saber se as roupas estavam sujas ou limpas e pelo jeito separar umas das outras ia levar muito tempo. Vários copos descartáveis estavam espalhados pelo quarto, alguns com resto de bebida dentro (geralmente café misturado a alguma bebida alcóolica).  Na cama, os lençóis arrancados violentamente da cama cobriam o corpo nú de Jo-33, que estava deitada ali fazia dois dias. Os olhos semi-cerrados começavam agora tremerem rapidamente. A mão direita se fechou involuntariamente agarrando um punhado de lençol. Jo-33 tombou a cabeça de lado e arregalando os olhos vomitou uma pequena quantidade de bile e água.

  Ela se levanta devagar. O braço onde foi usada a seringa pressurizada doía com agulhadas invisíveis. Ela tentou sentar-se na cama, mas a moleza do corpo a obrigou ficar deitada. Ela rolou por meio dos lençóis até cair da cama, a cabeça batendo em um sapato jogado. Abriu novamente os olhos, mas sentiu a dor da claridade e teve que fechá-los novamente.


  Seu terminal estava psicando. Um grande aviso estava na tela dizia "Você tem 22 telefonemas, 13 T-SMS e 2 videorequisições não vistas. Deseja visualizar agora? (S/N)".Jo-33 finalmente abriu os olhos e conseguiu sentar no chão. A boca estava seca e amarrada. Ela parecia estar sofrendo os efeitos de uma ressaca infinita. Tentou se levantar, mas precisou fazer muita força. Lembrou-se que nos últimos dois dias não tinha feito nada além de cochilar, beber e usar achbuld. Seu corpo estava fraco e sujo.


  Caminhou para o chuveiro sônico cambaleando e se apoiando nas paredes. Sua mão resvalou no apoio da cômoda e fez um pequeno corte na palma, mas Jo-33 não sentiu. No chuveiro, as vibrações percorriam seu corpo eliminando as células mortas, a sujeira e despertando Jo-33. Seu primeiro pensamento racional foi "O que foi que eu fiz?".


  Sentou-se no chuveiro e chorou. As vibrações sônicas atingiam suas lágrimas fazendo-as minguarem e desaparecerem. Suas mãos tremiam e ela começou a sentir muita fome. Ao desligar o chuveiro, reparou na marca de seringa no braço e aquele dia fatídico veio à tona - o dia em que teve contato com o achbuld pela primeira vez.


  Jo-33 pegou um transporte público até o grande Centro da Cidade. O grande Centro era um dos poucos acessos à parte baixa da cidade. Cabe um parêntese aqui para explicar sobre a cidade alta e a cidade baixa.


  Há mais de 50 anos, a cidade havia crescido o máximo permitido no sentido horizontal. Então começou a crescer na vertical. Anos mais tarde, os prédios engoliram as casas, soterradas por viadutos que ligavam arranha-céus e por prédios que utilizavam antigos edifícios como alicerce. Nascia assim a parte baixa e a parte alta. Não se sabe se pela falta de saneamento básico, energia elétrica (que fora desviada para a cidade alta) ou pode descaso dos poderosos, mas como podia se esperar, a cidade baixa virou um antro de criminalidade pobreza.


  Jo-33 pegou um transporte publico do Centro para a Parte Baixa. Infelizmente ele não ia muito longe e ela teve que fazer uma boa parte do trajeto a pé. Tomou cuidado com objetos de valores e precisou correr duas vezes pra não ser assaltada. Mas chegou a um prédio de apartamentos com 3 andares. Os dois primeiros estavam desocupados, saqueados e destruídos, mas o último era ocupado, principalmente por arruaceiros e desocupados. Mas ela encontrou o que queria: um modo de poder dormir e sonhar.


  Ela desligou o chuveiro sônico e começou a se vestir. Quando saiu do banheiro, tomou um susto: não estava mais em seu quarto - estava em uma espécie de cela acolchoada. Virou-se para o banheiro, mas não estava mais lá. Meu Deus, onde ela estava? Escutou gritos, vozes, risadas, todas vindo do lado de fora da sala. Havia uma porta onde antes era a entrada para a sala de estar. Para onde ela daria?


  Jo-33 forçou a maçaneta, mas a porta estava trancada. Havia um pequeno visor de vidro na porta. Ela olhou por ele, e viu apenas um corredor, com várias portas iguais a esta mesma. Começou a bater na porta com toda força possível, gritando:


  - Ei! Tem alguem aí? Tem alguem aí? Socooorroo!


  Vindo do nada, um cacetete bateu com força na porta metálica, fazendo um barulho de gongo. Jo-33 se assustou e caiu de costas na cela acolchoada. A porta se abriu três homens de branco entraram. Um deles portava uma seringa.


  "Estou dormindo. É isso! Ainda estou sob o efeito do achbuld. Tudo o que eu preciso é me concentar mais", pensou Jo-33, enquanto os enfermeiros a agarravam e a imobilizavam. Ela tentou fechar os olhos e pensar que isso iria acabar em breve, mas a agulha espetou seu braço (que curiosamente não sentiu dor) e ela caiu em sono profundo... 

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