sábado, 5 de julho de 2014

Resenha da Antologia "Super-Heróis"

Capa da Antologia
Este ano a  Editora Draco lançou uma coletânea de contos intitulada "Super-Heróis", ao qual eu tive a honra de participar.

  A antologia reúne contos de quatorze autores, com a temática dos heróis de quadrinhos, desde que os mesmos tivesse uma característica lusófona: os contos e seus heróis deveriam ser brasileiros ou portugueses, ter uma ambientação "abrasileirada", vamos por assim dizer. Não é a primeira vez que os quadrinhos atingem outro nicho - o cinema está aí pra provar. O mais recente é a republicação da série Cartas Selvagens, de George R.R. Martin, aquele mesmo de Guerra dos Tronos.
Você deve achar estranho que um dos autores esteja fazendo a resenha de um livro ao qual participa mas, assim como todas as antologias da editora, não tive acesso a nenhum conto antes da publicação do livro, portanto o faço como mero leitor. Nem todos os contos me agradaram, mas alguns, com certeza, chamaram bastante a atenção e você vai notar que a antologia merece a leitura.
  Um ponto interessante desta edição são os desenhos introdutórios antes de cada conto, representando o herói que irá aparecer. Todos em preto e branco, foram feitos e pintados à mão por Angelo de Cápua e são um show à parte.

  Edição de Colecionador - Autor: Romeu Martins
  É um conto de entrada bem curto, que pretende ir direto ao ponto. Lembra bastante os heróis que recorrem às forças do oculto, como o Doutor Estranho da Marvel e o Senhor Destino da DC. O Barão Trevas do conto é um herói local que busca justiça para o povo do Haiti. Essa referencia fica estranha, apesar do conto ser bem escrito. Se tivesse tempo de desenvolver mais, acho que teria sido melhor do que é.

 
Parte da ilustração que introduz o conto "Novo Herói na Cidade"
  Novo Herói na Cidade - Autor: Alex Ricardo Parolin
  Este é o conto deste que vos fala. Não vou fazer propaganda aqui - deixo uma sinopse simples: Um homem que tem a esposa assassinada descobre uma forma inusitada de fazer justiça. O conto se passa em São Paulo.

  Ascenção e Cancelamento do Mais Infame Supergrupo de Heróis da Terra - Autor: Pedro Vieira.
  O conto lembra bastante o mercado editorial de quadrinhos dos anos 90, quando surgiam revistas com chamadas explosivas, capas metalizadas, brindes e heróis sem conteúdo nenhum. Se você um dia procurar por uma revista no sebo desta época, vai ver que a história jamais se completava sem duas ou mais edições, muitas vezes não encontradas. O resultado, como o conto demonstra de forma bastante inteligente, é uma colcha de retalhos com heróis que venciam, sabe-se lá como, ameaças muitas vezes mais poderosas que eles. Bem escrito.

 
Parte da ilustração que introduz o conto "Roda Viva"
Roda Viva -
Autor: Gustavo Vicola

  A idéia do Corisco é genial - a de um heróis que avançou no tempo por correr demais ao tentar salvar um ente querido. No entanto, peca pela metafísica (e física cientifica) aplicadas inconvenientemente. Assim, o conto peca por apresentar uma história complicada de engolir, até mesmo para histórias em quadrinhos. Mesmo assim, a criatividade do autor merece um ponto de atenção e o enredo não é de todo perdido.
  Aliás, uma vez que Corisco também atua em São Paulo, fiquei imaginando uma fanfic em que nossos heróis também possam atuar juntos... Quem sabe?

  O Dia de Todas as Provas - Autor: João Rogaciano
  Baseado em um local real (e em um fato histórico de Portugal), o conto nos traz o clássico "herói do vilarejo", alguém sem grandes ambições, que quer apenas o bem do seu povo. Nesse conto conhecemos Pedro, o ferreiro, cujo único poder (de origem inexplicável no conto) é prender a respiração por longos períodos embaixo da água. E com isso, impede a invasão de estrangeiros à sua comunidade. Simples, mas gostei bastante.

  Herói das Urnas - Autora: Roberta Spindler
  Este conto me lembrou bastante a HQ "Ex-Machina", de Brian K. Vaughan. Em ambos, HQ e conto, temos um super-herói envolvido com política. Este conto nos mostra que certas coisas erradas podem dar assustadoramente certas. A reviravolta final é bastante interessante.

  O Doutor e o Monstro - Autor: Gerson Lodi-Ribeiro
  Qualquer semelhança com a história de Robert L. Stevenson não é mera coincidência, já que aqui o mocinho (e por que não dizer, o vilão) são metamorfos. Mas não é só isso - um deles é um homem-onça, metamorfo genuinamente brasileiro, tão esquecido quando falamos de lobisomens e afins. O toque especial fica por conta dos poderes da onça cabocla. Um ponto negativo é que o conto parece enrolar em certas partes, deixando o meio da história um pouco difícil de digerir.

 
Pardal Mecânico
A Última Aventura do Pardal Mecânico -
Autor: Dennis Vinícius.

  Heróis cômicos não nos faltam: do Homem-Borracha da DC ao Deadpool da Marvel, seres com poderes incríveis que nos fazem rir ao mesmo tempo que combatem o crime (ou se envolvem com ele, vai saber...) estão sempre aparecendo nas histórias em quadrinhos. Este conto não é a exceção - ele conta a história de um herói decadente, aposentado, esquecido. Aqui seu vilão não tem armas ou poderes fantásticos, mas o conto narra de forma bastante cômica a luta do herói contra um vidro de palmito.

  O Grande Golias - Autor: Luiz Felipe Vasquez.
  Do Capitão América ao Major Nazista, todas as revistas tiveram, ao menos uma vez, heróis combatentes em suas fileiras. E por que não o Brasil? O grande Golias é uma trágica história de guerra, onde nosso herói é um membro da FEB - Força Expedicionária Brasileira - e participou da tomada de Monte Castelo. Mas infelizmente, o protagonista aprende que não somente de força é feito um herói. Deveria ser menos entrecortado, mas ainda assim é bem escrito.

  Pela Terceira Idade - Autora: Inês Montenegro.
  A Sociedade da Justiça. Os Invasores. Watchmen. Heróis que não sabem parar quando a idade chega. Esta história tenta apresentar um clima nostálgico, de um herói que não consegue saber que chegou a sua vez de aposentar a capa. Infelizmente, o clima não é atingido e o conto termina bem morno.

  Sete Horas - Autor: Gian Danton.
  O homem comum que descobre ter nascido com poderes que ninguém mais tem. A história começa bem, mas perde-se ao tentar misturar o tempo real com as lembranças trágicas que o herói tem da mãe. Piora quando tenta explicar os poderes do herói com um pé na religião. Deveria ser um bom conto, mas não engata e não empolga.

 
Ilustração introdutória do conto "Barlavento 1807"
Barlavento 1807 -
Autor: Vitor Vitali.

  Se você já leu Marvel 1602, escrita por Neil Gaiman, já tem uma noção do que este conto tenta se parecer. Conta a história de uma dupla cavalheiresca de heróis - ou um tanto bizarra. Só achei que o conto é bem curtinho e se fosse maior, teria se desenvolvido muito mais sobre os dois protagonistas. Mesmos assim, o Bobo e o Ladrão são personagens bastante carismáticos.

  Verdade Sobre o Raio Vermelho - Uma Biografia - Autor: Lucas Rocha.
  Este é mais um conto sobre heróis aposentados, mas escrito sob uma ótica diferente: aqui lemos trechos de gravações de entrevistas concedidas do herói ao seu biógrafo. O início demora pra empolgar, mas logo fica bacana e termina com uma humanização bem feita do herói.

  Jaya e o Enigma de Pala - Autor: Antonio Luiz M. C. Costa.
  Esta é uma história que não gostei. O Brasil é pano de fundo para o início e fim da história, mas poderia ser em qualquer lugar que não faria diferença. O meio da história se passa em vários outros lugares, como a Pala citada no título e até Nova Iorque. A heróina, Jaya, veio do espaço, mais especificamente de uma Terra semelhante a nossa e está aqui como uma "estudante" da nossa cultura.

Enfim...
  A antologia "Super-Heróis" possui contos bem bacanas e nos vem mostrar que é um gênero que se permite múltiplas formas e interpretações. Gostei da antologia em si e das idéias reunidas em volta dela, mesmo que alguns contos não tenham me agradado. Ao lançar esta antologia, a editora sugeriu uma continuação, intitulada "Super-Vilões". Assim como a contraparte heróica agradou, a iniciativa vilanesca eu gostaria muito de ver...

3 comentários:

  1. Alex, eu adoraria fazermos uma parceria entre o Corisco e o Vulto. São Paulo estará bem protegida. ;)

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  2. Parolin é o nosso escritor ídolo!

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  3. Ai sim! Está na minha lista de livros para ler(Ou assim que o Dinho terminar de ler!)

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