domingo, 24 de março de 2019

Eu vi: Capitã Marvel

  No dia 7 de março estreou nos cinemas brasileiros o 21º filme da Marvel Studios, Capitã Marvel. O mesmo conta a história de Carol Danvers (interpretada magnificamente por Brie Larson), uma piloto da força aérea americana que acaba se envolvendo no meio de uma guerra espacial entre duas raças alienígenas. Adicione uma pitada de rejuvenescimento para um Nick Fury (Samuel L. Jackson muito à vontade no papel), uma aparição rápida de Coulson (Clark Gregg, que manda muito bem em Agentes da Shield) e está feito o mais novo sucesso do Universo Cinematográfico da Marvel.

  Mas segura esse andor que o santo ainda é de barro.


  O filme da Capitã Marvel teve um bom alarde em cima dele. Afinal, da heroína dependia uma resolução que foi iniciada lá nas cenas de Vingadores: Guerra Infinita. Quem é aquela que seria capaz de (ou ajudar a) resolver o estalar de dedos de Thanos? Ou estaria a Marvel levantando a bandeira de um movimento através do seu primeiro filme estrelado por uma protagonista feminina? E afinal, o público saberia identificar quem é aquela que atende pela patente de Capitã, mas já foi Miss Marvel, Binária e Warbird?

  A película nos leva a Hala, capital do Império Kree, onde Vers - a nossa heroína não descoberta - faz parte da Starforce, comandada por Yon Rogg; personagem interpretado por Jude Law, que todo mundo pensava antes do lançamento do filme que o mesmo seria o Capitão Mar-vell. A equipe ainda conta com a presença de Korath, interpretado por Djimon Hounsou, voltando ao papel já apresentado em Guardiões da Galáxia. Lá a protagonista, que não tem memória nenhuma, luta para fazer parte de uma equipe que a adotou - mesmo que não seja isso que ela queira de verdade. Depois de vários flashbacks e cenas de luta sem sentido, a equipe é emboscada e Vers acaba caindo na Terra, que é onde toda a maior parte da ação se passa.

A protagonista e a Starforce em cena do trailer
  Quando ela se encontra com Nick Fury, existe uma química praticamente instantânea. E não se assuste, não é o mesmo Nick "Amargurado" Fury que você conhece - o ator dá a vida a um desprentensioso agente, ainda com muito por descobrir sobre o Universo. Sua forma de ver o mundo ainda não havia mudado e este é um trocadilho infame que não prolongarei pra não dar spoilers. E sim, esse Nick é capaz de fazer a capitã sorrir - e manifestar outras emoções, diferente do que o pessoal na internet possa ter dito. Brie Larson nesse papel é fantástica.

  O filme que teve nove roteiristas (incluindo Roy Thomas, o pai da Capitã Marvel nos quadrinhos), teve na direção Anna Boden e Ryan Fleck, diretores mais acostumados a telinha que a telona. Isso, de certa forma, impacta o material por que ele tem alguns problemas bem amadores. A minha maior birra, por exemplo, são as cenas de luta cuja edição e montagem parecem ter sido feitas por alguém filmando com um celular pegando todos os ângulos errados e picotando tudo no Windows Movie Maker. A experiência (ou a falta dela) pesa um pouco em alguns quesitos do filme.

  Outro erro, e nesse caso de roteiro é a tentativa de explicar várias pontas soltas da Marvel, pra fazer o retcon funcionar. Em tempo, "retcon" é a abreviação de retro continuity, ou continuidade retrógrada; mecânica muito utilizada nos quadrinhos para criar um passado até então inexistente pra justificar mudanças no futuro. Essa tentativa cria cenas bastante forçadas, como o acidente ocular de Nick Fury ou a origem do nome "Vingadores". O filme se passa em 1995 e até 2008, com o surgimento de Homem de Ferro, muita coisa aconteceu. Fatos mostrados no filme poderiam ter sido deixadas nesse intervalo.



  E por fim, os efeitos especiais são uma variação de altos e baixos, com o rejuvenescimento de Samuel L. Jackson funcionando muito bem, passando por uma criativa transformação dos skrulls. Porém, a revelação do Flerken, a cidade de Hala, a Grande Inteligência Kree são feitas de forma primárias, mal acabadas e não convencem nem um pouco. Parece que o filme teve duas visões diferentes sobre como os efeitos deveriam se portar.

  A grande oportunidade da Marvel emplacar um filme de uma grande e poderosa protagonista resulta em uma apresentação morna, contida e sem coragem de ousar. É um filme agradável e divertido, mas que não sai da zona de conforto de um filme pipoca convencional. Uma personagem tão legal merecia ao menos uma cereja em cima daquele bolo todo.

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