segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Resenha dupla: Joe Hill

Foto roubada da wikipédia
  O nome é Joe Hillstrom King, mas você pode chamá-lo de Joe Hill apenas, por que é assim que ele escolheu assinar os livros. O motivo? Ocultar o fato de que é filho de Stephen King e parecer que seus livros tenham sido publicados por favoritismo. Bom, talvez até tenham, mas eu duvido. Joe Hill tem um talento para a escrita assim como o pai e isso não precisa de favores.
  Joe Hill escreveu três livros de 2007 à 2010: "A Estrada da Noite" (The Heart-Shaped Box) em 2007, "Fantasmas do Século XX" (20th Century Ghosts) em 2008 e, por fim, "O Pacto" (The Horns) em 2010. O objetivo desta resenha é falar de dois deles, "A Estrada da Noite" e "O Pacto". Infelizmente eu não tive a oportunidade de ler "Fantasmas...".


A Estrada da Noite
  Sinopse: Jude Coyne, uma lenda do rock que coleciona objetos macabros, descobre que um estranho leilão na internet. Por 1.000 dólares, o roqueiro se torna o feliz proprietário do paletó de um morto, supostamente assombrado pelo espírito do antigo dono. Sempre às voltas com seus próprios fantasmas - o pai violento, as mulheres que usou e descartou, os colegas de banda que traiu -, Jude não tem medo de encarar mais um. Mas tudo muda quando o paletó finalmente é entregue na sua casa, numa caixa preta em forma de coração. Desta vez, não se trata de uma curiosidade inofensiva nem de um fantasma imaginário. Sua presença é real e ameaçadora. O espírito parece estar em todos os lugares. O roqueiro logo descobre que o fantasma não entrou na sua vida por acaso e só sairá dela depois de se vingar.
  A Estrada da Noite é o romance de estréia de Joe Hill. Ele tem o clima setentista dos romances do pai e não duvido que ele, Stephen King, tenha sido um dos primeiros revisores. O personagem principal é Jude Coyne, um roqueiro bem parecido com Ozzy Osbourne: roqueiro excêntrico, seus os dias de glória ficaram para trás, apesar da legião fiéis de fãs e da quantidade bem grande de dinheiro. Dinheiro que, aliás, usa para ter uma coleção particular de bizarrices, como um snuff video de verdade (responsável pelo seu divórcio), o crânio de um homem lobotomizado, etc.
  Hill gosta de boas construções de cenas, assim como o pai. Aliás, é impossível não compará-lo a King nesse livro, mesmo que possivelmente seja esse o desejo do autor. A forma da escrita, os personagens, o jeito como eles se relacionam, tudo liga Hill a King de uma forma bem natural.
  Isso não compromete a leitura e embora pareça, não torna Hill uma cópia de King. a linguagem de Joe Hill em "A Estrada da Noite" é bem mais moderna e mais ampla que a do pai, que em alguns livros ainda permanece preso nos anos 80 (Nota do autor da resenha: Não li os livros mais recentes do King - o mais recente foi "Celular" que achei bem fraquinho. Dizem que "Sob a Redoma" é excelente, então talvez minha opinião mude quando eu o ler).
  Os personagens são bem estereotipados: o roqueiro acabado, porém durão. A gótica piriguete. A velha vó que sabe das coisas. A proteção dos animais contra o mundo sobrenatural. Os clichês povoam o livro. A arma natural dos romancistas iniciantes, mas acho que o editor deveria ter puxado um pouco o freio do autor aqui.
  A trama é violenta, rápida e com toques de suspense. Feijão com arroz clássico, servido em prato bonito com tempero diferente. Agrada sem ter que engolir a seco algo indigesto e alimenta a mente por um tempo, mas é um material que se digere rápido - logo a leitura se esvai e você vai querer ler outra coisa.
  O final é um pouco longo demais, no entanto não é ruim, nem decepcionante. A Estrada da Noite não é um primor literário, mas é divertido e como romance de estréia, vale bastante a pena lê-lo.

O Pacto
  Sinopse: Ignatius Perrish tinha uma família unida, um irmão que era seu grande companheiro, um amigo inseparável e, muito cedo, conheceu Merrin, o amor de sua vida. Até que uma tragédia põe fim a toda essa felicidade, Merrin é estuprada e morta e ele passa a ser o principal suspeito. Um ano depois, Ig acorda de uma bebedeira com uma dor de cabeça infernal e chifres crescendo em suas têmporas. Descobre também algo assustador: ao vê-lo, as pessoas não reagem com espanto e horror, elas entram numa espécie de transe e revelam seus pecados mais inconfessáveis. Ninguém está imune a Ig. E todos estão contra ele. Quando todos os que amam lhe dão as costas e sua vida vira um inferno, até que ser o diabo não é tão ruim assim.
  Se Joe Hill cometeu alguns erros em "A Estrada da Noite", em "O Pacto" ele se redime totalmente. O livro é vibrante, denso e vivo. Nele conhecemos Ig, cara legal que é acusado do estupro e morte da namorada, mas é inocente. Infelizmente estará para sempre "sob investigação", por que o laboratório que continha as provas da perícia queimou acidentalmente.
  Um ano depois, a cidade o odeia pelo seu crime e acha que ele saiu impune por ter as costas quentes e uma familia influente. Nesse tempo todo, Ig viveu uma vida meio "marginal" e depois de uma bebedeira, ele acorda com chifres na cabeça. Sem saber o que são, Ig descobre que as pessoas confessam-lhe os maiores e mais ocultos pecados quando olham para os chifres. Aos poucos, todos os segredos vão sendo revelados.
  O livro possui vários flashbacks alucinantes, que acontecem quando Ig se lembra de algo ou quando ele toca alguém (um de seus poderes é absorver memórias das pessoas ao tocá-las). E assim, aos poucos, as peças do quebra-cabeça vão se encaixando e vamos entendendo como Ignatius Perrish se envolveu nessa cilada e como os chifres foram aparecer na sua cabeça. E não estamos falando sobre ser corno ;)
  Neste livro Joe Hill está longe de ser o escritor iniciante que se mostrou em "A Estrada da Noite". O é bem mais trabalhado e muito bem escrito. É difícil de largá-lo até saber se Ig terá ou não sua vingança e se ele deixará ou não de ser uma boa pessoa. O final do livro é impactante e quase palpável. O fato é que, na minha opinião, "O Pacto" supera até mesmo alguns dos contos do próprio King. Só não espere por um pacto na história, por que não há. Não sei o motivo desta tradução, já que o título original do livro é 'The Horns' (Os chifres).
  Joe Hill é a prova de que o talento pode, em raríssimas ocasiões, ser uma herança genética. Não há outros livros dele, embora acredito que esteja trabalhando em alguma coisa (assim como o pai, que sempre está digitando alguma coisa). Hill também está envolvido com o cinema (ao que parece, O Pacto vai ganhar uma versão cinematográfica com Daniel Radcliff no papel principal). O sucesso, pelo jeito, é coisa de família.

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