quinta-feira, 15 de julho de 2021

Abrindo parênteses: Não deixe suas ideias encostadas.


  A sessão Abrindo Parênteses tem por finalidade tratar de assuntos que não sejam o foco do blog: nada de quadrinhos, RPG, cinema ou livros e sim, assuntos dos mais diversos.  E hoje vou tratar de um assunto bastante pessoal, que acredito que alguns de vocês já passaram por essa situação - o arquivamento de projetos pessoais.

  E por ser bastante pessoal, prestem muita atenção: não ignore suas ideias, por pior que elas sejam.


O Processo Criativo  


  Infelizmente, muitas de nossas ideias são apenas lixo. Você quer montar um novo texto, fazer um desenho, gravar um vídeo e muitas coisas funcionam apenas na sua cabeça. Quando elas são colocadas no papel - ou prancheta, ou câmera - você acaba percebendo que elas não funcionam. Mas se você as lapidar, elas começam a fazer mais sentido. Outros personagens, outras cores, outra iluminação e pronto, as coisas começam a funcionar.

  O fato é que é mais ou menos assim que as coisas funcionam. Você imagina, planeja, executa, confere, corrige e finaliza. E parte pra próxima. Se sua ideia não funciona - alguém já fez melhor, a ideia é muito clichê, ou ainda os materiais pra você realizá-la estão além de seus poderes aquisitivos - volte ao ponto inicial e trabalhe novamente em cima dela, até que seja algo original e valioso mais uma vez.

  Uma cacetada de pessoas desiste nesse ponto. O cansaço bate forte, a falta de tempo fica martelando em cima e os boletos não param de chegar - esse último pesa muito se a atividade criativa não for a sua fonte de renda. Então você "deixa pra depois". Só que o depois nunca chega.

As ideias que nunca nasceram

  Vou contar duas experiências que tive e que servirão de exemplo pra vocês. Como sabem, gosto muito de escrever. Não pratico, mas gosto muito. 

  Eu nunca escrevi histórias policiais, de suspense ou investigação. Sempre desejei fazer isso, então um dia pesquisei sobre o assunto, das formas de escrita à construção de personagem e todo necessário para esse tipo de história. Então elaborei a minha ideia: o livro contaria a história de uma vampiro centenário que usaria sua experiência de vida para solucionar crimes. Ele contaria com uma parceiro humano ou coisa assim, pro caso de resolver problemas durante o dia. Cada capítulo seria a resolução de um crime, que aparentemente não têm ligação entre si. Até o final, onde descobriríamos uma conexão e que o grande vilão seria um outro vampiro mais antigo.

Cartaz da série Forever

  Interessante, né. Mas ela foi abandonada. Sabe por quê? Por que na época ela seria considerada um grande plágio da série Forever, da ABC, estrelada por Ioan Gruffud. Na série, Ioan interpreta o dr Henry Morgan, um legista que possui vida eterna. Sempre que era morto, aparecia nu dentro do lago ou rio mais próximo. Sua vida com mais de duzentos anos lhe deu experiência suficiente que ele usa pra ajudar a resolver os crimes da delegacia onde trabalha. Ele não sabe a razão de ser imortal, mas no final da temporada, descobrimos que ele está sendo seguido por outro imortal, muito mais antigo, e que pode ser a resposta para suas perguntas. A série foi cancelada na primeira temporada. Ioan Gruffud deve ficar muito bem de legista, pois ele interpreta outro médico forense na série australiana Harrow.

  Nunca mais voltei a essa história, embora o arrependimento me martele na cabeça de vez em quando. Mas eu não havia desistido ainda. Então fui um pouco mais longe com outra ideia policial, uma que comecei a escrever de fato, mas que também foi abandonada.

  Nessa história, as lendas brasileiras existiam e conviviam com seres humanos, aqui na cidade de São Paulo. Acho que não preciso seguir muito em frente com o raciocínio, você já deve ter se tocado. Mas vamos lá. A Curupira (sim, no feminino), seria uma detetive que teria que descobrir quem matou a Iara e a razão do crime. Ela interrogaria vários dos "Encantados" (como eles seriam chamados), até descobrir a verdade. Não preciso dizer que este roteiro é bem parecido com a série da Netflix, Cidade Invisível.

Cartaz da série Cidade Invisível, do Netflix

  "Ah, mas como é que você ia poder saber?". Não teria como. Mas o não desenvolvimento dessas ideias permitiu que outras melhores aparecessem antes mesmo que eu tivesse tempo de tê-las lapidado. Deveria ter desistido? Talvez sim, talvez não. Mas perdi uma oportunidade de fazer melhor. Não melhor que os outros - melhor que eu mesmo.

Não deixe suas ideias encostadas


  Deixar de lado algumas ideias pra voltar pra elas depois faz parte do processo criativo. Ver o que você estava fazendo com outros olhos, com a "cabeça descansada", as coisas ficam muito diferentes. Esse texto mesmo, editei várias vezes antes de postar. Então sim, você pode deixar a ideia de lado um tempo, mas tente voltar a ela um tempo depois.

  Mesmo a pior das ideias pode render coisas interessantes. Pode brotar um novo assunto daquele texto ruim, uma nova imagem para aquela ilustração chata ou uma nova edição para o vídeo sem graça. Não desperdice as ideias ruins por elas serem ruins - serão elas que nos farão ver como as coisas boas são.

  A procrastinação é a pior vilã deste caso. Ela vai matar a sua vontade de trabalhar as más ideias e as boas jamais irão surgir, afinal você não irá atrás delas. Se deixou o trabalho para ser analisado depois de certo tempo, certifique-se de que irá mesmo retornar a ele.

  A série do legista imortal foi cancelada na primeira temporada, mas nada garante que a ideia do vampiro detetive fracasse igualmente. E a historia dos Encantados está guardada, para o dia que eu achar um rumo melhor pra elas. Não vou desistir delas mais uma vez. Espero que você não desista das suas também.

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